Sentada, quase como se não estivesse ali, olhava desatenta para o grupo que se movimentava e emitia ruídos conforme a indicação do senhor com o tamborzinho na mão.
Nem sabia direito o que estava pensando, tantas eram as coisas que lhe tinham entrado na cabeça. O grupo se movia em câmera lenta (1% de movimento havia sido a última indicação), e lhe parecia que quanto menos eles se moviam, mais vertiginosos pareciam.
Dois pares de olhos não lhe saíam da cabeça. É bonito quando uma coisa fixa começa a mudar, como se sempre tivesse havido algo como uma borboleta por baixo de uma carapaça. Como se fosse quase natural, quase óbvio, quase fácil. Um quase fácil que até ali tinha lhe parecido muito dificil.
Era como se se acostumasse com outra fôrma, outro jeito de ser tocada.
Não sabia falar de olhos verdes, tanto tempo havia passado cultuando um par de olhos escuros. (Quanta diferença pode caber em dois olhos verdes?)
Desconcentrou-se com o coro que ria na frente da sala, tentando contagiar-se. Riu junto com eles até que tudo perdesse o sentido e a graça estivesse só na graça do próprio riso.
Era tudo hoje sensação de frescor, como se fosse tudo começar de novo.
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Um comentário:
Brinco com etimologia agora
pois o branco visto
sugere o previsto
branco e preto
que se sujam do imprevisto
como o lápis preto com que cobrimos a pintura do arco-íris e este, que não fosse o palito de dente arranhando o papel, nunca existiria a não ser em imaginação
Sem mais liricismo.
Gostei muito, muito mesmo.
Ver o cotidiano retradado de forma tão poética é um sonho de criança meu.
Arrasou, brabuleta.
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