quinta-feira, 16 de abril de 2009

Era sempre a mesma confusão, a mesma agonia. Primeiro ela tentava jogar areia nos sentimentos que não queria mais que existissem, olhava pros lados e sorria aleatoriamente pra quem passasse na rua. Quando entendia que aquilo não era a solução, se calava, ficava introspectiva e passava horas escrevendo versos num caderno que calava seus segredos.
Quase sempre era assim, quando alguma coisa incomodava ou doía, ela preferia o silêncio do seu quarto, sem gente que insistia em dizer que o mundo acontecia lá fora. O mundo dela era dentro. Sempre havia sido dentro.
Às vezes passava longos períodos de reclusão, como uma lagarta que precisa se trancar no casulo pra finalmente virar borboleta, e quando saía, olhava tudo com olhos mais abertos, como se só depois de tudo pudesse ver.
Ela não gostava da influência que ele (sempre ele) exercia sobre as suas decisões, simplesmente não suportava mais aquele furacão dentro do peito. Ele era um rapaz comum, sem grandes atrativos físicos... era inteligente, isso é fato, e tinha a melhor lábia da América Latina. Sabia dizer exatamente as coisas que ela gostava, queria e precisava ouvir, o problema é que só dizia quando tinha vontade. E, verdade seja dita, tinha tido pouquíssima vontade nos últimos tempos...


Renata Martins
(Escrito em 16.04)